Cabra escondida com rabo de fora está mais escondida que rabo escondido com cabra de
fora
(adaptado de trava-língua popular)
2006-09-27
Nancy, aqui estou eu!
Com 6 horas de sono (após 12 horas de viagem), eu e Xerazade assistimos, estoicamente, a todas as sessões do Congresso, que acabaram por volta das 18:15. Para as 20:30 estava marcado um jantar no edifício da Câmara, oferecido pelo Congresso a todos os participantes, e uma visita ao Museu de Belas Artes. No tempo que ainda tínhamos, decidimos fazer um reconhecimento da cidade de Nancy, com direito a vários registos fotográficos.
Eu e a Catedral de Nancy
À hora marcada, encontrámo-nos com os outros participantes no Hôtel de Ville, onde tivemos de gramar o discurso da vice-presidente da Câmara (claro, que os políticos são iguais em qualquer parte do Mundo...) a lembrar-nos quem é que tinha, tão gentilmente, pago o jantar que estaria à nossa espera. Uns senhores enfarpelados começaram a passar com tabuleiros cheios de canapés e entradinhas, que fomos trincando enquanto nos distraíamos a travar conhecimento com os outros 2 participantes portugueses. Depois de algum tempo de conversa em que foram defendidas as camisolas, com cada um a elogiar a sua própria empresa e a morder-se para não falar mal de nada nem de ninguém, reparei que os conteúdos dos tabuleiros tinham deixado de ser tostinhas e empadas para passarem a ser cubinhos (com uns meticulosos 20 milímetros de lado) de bolos. "Bolos? Tu queres ver que isto foi o jantar e que nos estão a servir a sobremesa?" Mas aí já era tarde. Eu, que estava a tentar ser comedida com as "entradas" para não perder o apetite para o "jantar" já só tive tempo de agarrar 2 cubinhos de uma só vez, antes dos senhores enfarpelados desaparecerem. Seguiu-se a visita guiada ao Museu, cuja principal colecção é de peças de vidro e cristal de Daum.
Colecção Daum, Museu de Belas Artes de Nancy
A visita foi interessantíssima e acabou por se prolongar até quase à meia-noite mas, como nem só de cultura se alimenta uma mulher, quando a visita ao Museu terminou, fomos fazer uma visita ao restaurante italiano da esquina.
Aterrámos em Paris, aeroporto de Orly. Pelos nossos relógios eram 20:30 hora local. O voo para Nancy estava marcado para as 20:40. Mal abriram as portas do avião, saímos desenfreadas, com as nossas valises-bobby (malas com rodinhas) a serem arrastadas pelos corredores do aeroporto. Quando avistámos um painel de informação, todas as nossas esperanças caíram por terra. À frente do número do nosso voo, piscava a frase escrita a vermelho "Boarding completed". E nem pudemos recorrer ao número das mulheres desesperadas, plano que tínhamos engendrado durante o voo anterior. Era um plano simples e muito comum: bastava dirigirmo-nos à porta de embarque e chorar baba e ranho até que voltassem a abrir as portas e nos deixassem entrar. Mas nem isso nos deixavam tentar porque no painel de informação já não havia qualquer indicação de qual era a porta de embarque para aquele voo. "Bem, este podemos esquecer. Agora vamos procurar alternativas." Neste ponto da história convém referir que os dois voos desse dia eram de companhias diferentes: o primeiro, que se atrasou hora e meia, era da TAP; o segundo, que nós perdemos graças ao atraso do primeiro, era da Air France. Os acontecimentos que se seguiram serão contados por imagens ou, caso contrário, necessitaria de 5 páginas para os descrever:
Acabaram por contactar um táxi do aeroporto para pedir um orçamento para a viagem de 400 km. Quanto ao valor indicado, nem o vou mencionar, porque só de pensar nisso, sinto uma dorzinha aguda. Depois de pesar bem que a viagem de táxi se apresentava como a melhor hipótese para estar na manhã seguinte em Nancy e confiando que a empresa pagaria a exorbitância pedida, lá fomos ter com o taxista à entrada do aeroporto. O táxi era muito confortável e até tinha GPS, o que facilitou enormemente a encontrar o hotel, quando chegámos a Nancy, às 2:00 hora local.
Eu e a minha colega Xerazade fomos convocadas para ir a um Congresso de 2 dias em Nancy de França. Para começar, arranjar voos para Nancy de França não é fácil e entre as opções de esperar 8 oito horas por uma ligação, sair às 6 da manhã (e perder 3 dias de trabalho em vez de 2 e 1/2) ou pagar balúrdios, lá me vi com um bilhete na mão que apenas implicava uma mudança de avião em Paris e que custava quase tanto como o que eu ganho num mês. A empresa paga mas custa-me...
Dia da partida
Chegava a hora prevista para o embarque quando o avião encostou à manga de acesso. "Uffff, estava a ver que nos íamos atrasar..." Sucede-se a típica formação de fila porque o tuga é um gajo prevenido e mesmo que ainda não tenham chamado para o embarque, mal se apercebe de alguma acção junto à porta, forma logo fila porque tuga que é tuga não gosta de ficar atrás dos outros. E de facto, agitação era o que não faltava com os assistentes de terra a correr entre a porta de embarque e o avião e nós a vê-los passar pela manga fora, mas sem aparentarem grande vontade de nos chamar para o embarque. Reparámos então que estavam a tirar cadeiras do avião e aí comecei-me a preocupar. Seguiu-se uma operação complexa de embarque de uma pessoa que chegou de ambulância e que foi carregada em braços para o interior do avião, juntamente com uma maca e um casal, que percebemos mais tarde serem um médico e uma enfermeira. Nisto, começámos a ouvir nos altifalantes do aeroporto: "Pedimos aos passageiros Rita Rabiga e Xerazade M. do voo para Paris que se dirijam à porta de embarque 41" "Ai, o que terá sido agora?" - Olá, nós somos a Rita e a Xerazade. Passa-se alguma coisa? - Bem, tivemos de retirar as cadeiras dos vossos lugares por isso queríamos perguntar se não se importam de passar para a classe executiva. - Ahhh! Está bem. E, finalmente, embarcámos... com quase hora e meia de atraso. A parte boa foi que tivemos direito a crepe de frango com maçã assada e a sobremesas (doce de coco e laranja VERDADEIRA), enquanto os passageiros da classe turística trincavam uma sandes mista. A parte menos boa é que chegámos a Paris a uns escassos 10 minutos da hora marcada para a partida do voo para Nancy.
Como dois exércitos teimosos, terra e mar disputam o seu espaço incessantemente. O mar invade a terra. A terra avança sobre o mar. Mas naquele dia, quando o mar se preparava para embater sobre a terra com toda a sua força e todo o seu vigor, transformou-se em nuvem. E em vez de destroços e ruínas, deixou atrás de si, frescura e acalmia.